A PARENTALIDADE NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA CONTEMPORÂNEA

Milena Vieira e Silva e Fabiana Cristina Teixeira. A parentalidade no desenvolvimento da criança contemporânea. Revista Ciência Dinâmica, vol. 15, 2024. Faculdade Dinâmica do Vale do Piranga.


Recebido em: 06/12/2023 Aprovado em: 16/04/2024 Publicado em: 15/05/2024


CIÊNCIA DINÂMICA – Revista Científica Eletrônica FACULDADE DINÂMICA DO VALE DO PIRANGA

25ª Edição 2024 | Ano XV - e252401 | ISSN – 2176-6509

DOI: 10.4322/2176-6509.2024.002

1º semestre de 2024


A PARENTALIDADE NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA CONTEMPORÂNEA

PARENTING IN THE DEVELOPMENT OF THE CONTEMPORARY CHILD

Milena Vieira e Silva¹*, Fabiana Cristina Teixeira².

¹Discente do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Viçosa.

2Doscente de Psicologia do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Viçosa. Doutora em Psicologia pela PUC Minas.ORCID:0000-0003-4012-3649.

*Autor correspondente: milenavieira.contato@gmail.com


Resumo

O presente trabalho teve por objetivo averiguar a existência de possíveis modificações de direcionamentos e funções, atrelada a parentalidade, frente ao desenvolvimento da criança, na contemporaneidade. Com essa finalidade, foi realizada uma pesquisa de natureza básica, descritiva, com abordagem qualitativa e bibliográfica. Utilizamos autores psicanalíticos para discutir sobre o desenvolvimento e artigos científicos sobre a prática parental contemporânea, retirados de portais como PePSIC e SciElo através dos descritores: “parentalidade AND desenvolvimento AND criança”, “função parental” e “parentalidade AND contemporaneidade”. Como critérios para inclusão de estudos tivemos o Idioma: português; Ano de Publicação: Desde 2018 até 2023; Classificação do qualis através da Plataforma Sucupira (A1 a B2) e Tipo de Recurso: Artigos Completos. Foram excluídos os estudos que não estavam de acordo com os critérios de inclusão. Constatou-se que há modificações no direcionamento da parentalidade vinculadas às mudanças sociais, tecnológicas e culturais como a flexibilização das responsabilidades parentais, novas constituições familiares e o uso de dispositivos digitais.

Palavras-chave: Parentalidade. Desenvolvimento. Contemporaneidade.


Abstract

The present work aimed to investigate the existence of possible changes in directions and functions linked to parenting in relation to the child's development in contemporary times. For this purpose, basic descriptive research was carried out with a qualitative and bibliographical approach. We used psychoanalytic authors to discuss development and scientific articlesabout contemporary parenting practice, taken from portals such as PePSIC and SciELO using the descriptors: "parentality AND development AND child", "parental function", and "parentality AND contemporaneity". As criteria for the inclusion of studies, we had Language: Portuguese; Year of Publication: From 2018 to 2023; Qualis classification through the Sucupira Platform (A1 to B2); and Type of Resource: Complete Articles. Studies that did not meet the inclusion criteria were excluded. It was found that there are changes in the direction of parenting linked to social, technological, and cultural changes such as the flexibility of parental responsibilities, new family constitutions, and the use of digital devices.

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Keywords: Parenting. Development. Contemporary


INTRODUÇÃO


O termo parentalidade surge na literatura francesa, em 1970, com o objetivo de substituir o termo “paternal’’ e atribuir uma posição homóloga de cuidadores a ambos os pais, para além do gênero e papéis que exercem (Corso e Corso, 2016). Assim, a parentalidade terá início e será experienciada de maneira diferente pelos sujeitos, visto que suas vivências anteriores interferirão neste processo (Teperman, Garrafa e Iaconelli, 2023). Contudo, para além da subjetividade, o autor Marques (2015) identifica a parentalidade como sendo uma construção social determinada historicamente, sendo possível encontrar variações nas ocupações atribuídas aos pais e cuidadores de acordo com a cultura e o tempo em que se analisa.

Após o advento da contemporaneidade, pós-modernidade ou também chamada de modernidade líquida pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman, os seres humanos se tornarammais independentes e seus relacionamentos interpessoais mais efêmeros e mutáveis (Bauman, 2001, 2004). Apesar disso, os exercícios dos pais e cuidadores ainda se apresentam essenciais no desenvolvimento do psiquismo do sujeito, visto que, além de afeto e cuidado, os cuidadores servem como fonte de referência. Assim, para fins deste trabalho, utilizamos a ideia de pós-modernidade, modernidade fluída, ou ainda, contemporaneidade para aludir um estado de ser e agir social, decorrente de um contexto histórico de mudanças sociais, culturais e políticas, do século atual (Shinn, 2008).

Posto isso, os problemas relacionados à função ocupada pela parentalidade no desenvolvimento da criança inserida na contemporaneidade vão desde prejuízos nas relações eexperiências sociais necessárias ao desenvolvimento da criança (Marques, 2015) e até mesmo,dificuldades na educação dos filhos (Scholz et al., 2015).

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A justificativa acadêmica deste trabalho, pauta-se no auxílio para obter maiores esclarecimentos sobre a função parental socialmente imposta, aprimoramento das práticas parentais que interferem no desenvolvimento das crianças e inferência de maior discernimentodo advento da sociedade pós-moderna. Dessa forma, o objetivo geral deste trabalho trata-se deanalisar a existência de possíveis modificações de direcionamentos e funções, atrelada a parentalidade, frente ao desenvolvimento da criança, na contemporaneidade.


O interesse neste estudo surgiu mediante ao questionamento referente às funções e direcionamentos apresentados pela literatura atual sobre o papel dos pais e cuidadores no desenvolvimento infantil, interpretando “desenvolvimento” através da abordagem psicanalítica como sendo a constituição subjetiva e psíquica do sujeito.


METODOLOGIA


A partir disso, os dados colhidos para este estudo se deram através da busca e seleção de artigos publicados em periódicos acadêmicos de revistas indexadas para que trouxesse umavisão contemporânea do tema, além da utilização de livros de autores psicanalíticos para que o quesito “desenvolvimento” não fosse tratado como um processo meramente maturativo pautado pela biomedicina. Com essa finalidade, foi realizada uma pesquisa de natureza básica que, segundo Ávila-Pires (1987), é realizada a fim de gerar conhecimento para a comunidade científica sem aplicá-la posteriormente; descritiva, visto que dissertamos sobre o cenário contemporâneo pós-moderno e com abordagem qualitativa e bibliográfica, por ter sido desenvolvida com material já existente sobre o assunto (Gil, 2008).

Para tal, visando recolher de forma minuciosa os trabalhos que possibilitem tal discussão, buscamos artigos no portal de Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PEPSIC) e Scientific Electronic Library Online (SciELO) com os seguintes pares: “parentalidade AND desenvolvimento AND criança”, “função parental” e “parentalidade AND contemporaneidade”.

Como critérios para selecionar e incluir estudos para subsidiar este trabalho tivemos o Idioma: português; Ano de Publicação: Desde 2018 até 2023; Classificação do Qualis Periódico pela Plataforma Sucupira (A1; A2; A3, A4, B1 e B2) e Tipo de Recurso: Artigos Completos. Entendemos como sendo critérios para exclusão estudos que não estejam de acordo com o critério de inclusão, além de não abordarem a temática proposta.

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Como citado anteriormente, a abordagem psicanalítica foi elegida para compor o estudo por abordar aspectos da constituição subjetiva e psíquica do sujeito. Essa escolha foi feita em detrimento de uma visão biomédica, enfatizando a compreensão dos aspectos psicológicos e subjetivos do sujeito, em oposição a uma abordagem puramente biológica ou médica. Para tal, partimos de textos de Sigmund Freud (1905/2016; 1914/2010) por abordar aspectos do desenvolvimento humano mas, também, utilizamos autores psicanalíticos


contemporâneos que abrangem a discussão dos desafios e ambivalências da parentalidade atual, como Alfredo Jerusalinsky, Vera Iaconelli e Durval Checchinato. Logo, para a realização dessa pesquisa, seguiu-se as etapas: seleção de materiais e autores que discorrem sobre os tópicos propostos; leitura e aprofundamento da temática de acordo com as referências selecionadas e desenvolvimento e discussão dos conteúdos recolhidos.


RESULTADOS


A pesquisa nos periódicos PEPSIC e SciELo revelou resultados distintos quanto a presença de artigos relacionados à temática. Na base de dados PEPSIC, foram localizados 16 (dezesseis) com o descritor “parentalidade AND desenvolvimento AND criança”, 1 (um) com o descritor “função parental” e 15 (quinze) trabalhos através dos descritores “parentalidade AND contemporaneidade”.

Por outro lado, no SciELo, foram encontrados 15 (quinze) artigos com o descritor “parentalidade AND desenvolvimento AND criança”, 90 (noventa) artigos com o descritor “função parental” e 2 (dois) trabalhos com os descritores “parentalidade AND contemporaneidade”. Estes resultados demonstram uma crescente contribuição de produções científicas acerca da temática mas que ainda existem possibilidades de pesquisas futuras.

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Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, realizamos a leitura dos títulos eresumos dos artigos disponíveis, selecionando aqueles condizente com a temática e lendo- os integralmente. Assim, foram selecionados 4 (quatro) publicações do periódico PEPSIC e 1 (um) do periódico SciElo representados no quadro 1 a seguir.


Quadro 1 – Artigos selecionados para compor o presente trabalho

Periódico

Título

Autores

Ano

Classificação

Qualis

Pepsic

De quem é a preocupação primária?:A teoria winnicottiana eo cuidado parental na contemporaneidade

CAMPANA, N. TC.; DOS SANTOS, C. V. M.; GOMES, I. C.

2019

A2

Pepsic

Tempo de convivência entre pais e filhos: reflexões sobre a parentalidade residencial compartilhada

FERREIRA, A. et

al.

2018

A4

Pepsic

Reconhecimento tardiode paternidade e suas repercussões no desenvolvimento dos filhos

PALMEIRA, H.M.; SCORSOLINI-CO MIN, F.

2018

B2

Pepsic

Relações entre parentalidade e Funções Executivas: Uma Revisão Sistemática

SOUZA, W. M. et

al.

2021

A2

SciELo

Estratégias de promoçãoda saúde na primeira infância: tecendo redes locais

MOURA, C. S. et

al.

2022

A4

Fonte: Elaborado pela autora, 2023

O trabalho de Campana, Dos Santos e Gomes (2019) buscava analisar a teoria winnicottiana da "preocupação materna primária" e sua aplicação no contexto do cuidado parental na contemporaneidade, apresentando o conceito de preocupação materna primária, a divisão de responsabilidades entre mãe e pai, além da influência tecnológica no cuidado parental.

Ademais, Ferreira et al. (2018) teve por objetivo analisar o impacto da parentalidade residencial compartilhada (PRC) no tempo de convivência entre pais e filhos, discutindo os fatores e os impactos deste modelo no desenvolvimento infanto juvenil. Os autores Palmeira e Scorsolini-Comin (2018) estudaram as repercussões do reconhecimento tardio de paternidade no desenvolvimento dos filhos, discutindo o conceito de reconhecimento tardio, os fatores queinfluenciam esse processo e suas repercussões no desenvolvimento.

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A pesquisa de Souza et al. (2021) tratou de investigar a relações entre parentalidade e funções executivas em crianças com desenvolvimento típico de zero a 13 anos, identificando uma relação entre parentalidade positiva e negativa e o desenvolvimento das funções executivas. Por fim, Moura et al. (2022) explorou as estratégias de promoção da saúde na primeira infância, com ênfase na intersetorialidade e na construção de redes locais,


discutindo a importância da primeira infância no desenvolvimento, as ações de promoção de saúde e a articulação entre diferentes atores sociais para essa finalidade.


DESENVOLVIMENTO E DISCUSSÃO

Após uma revisão minuciosa das fontes selecionadas, ficou evidente a intrincada complexidade deste estudo, demandando a categorização de cada temática. Ao subdividir a análise, torna-se possível explorar em maior profundidade as diversas dinâmicas presentes na parentalidade moderna como as questões dentro do cenário atual, caracterizado por rápidas mudanças tecnológicas (Giddens, 1991), novos arranjos familiares (Ferreira, et al., 2018) e desafios específicos enfrentados pelos pais e suas famílias (Moura, et al., 2022).

Além disso, podemos englobar desde os aspectos relacionados aos papéis e gêneros parentais (Teperman, Garrafa e Iaconelli, 2023) até o desenvolvimento psicológico das crianças e a presença dos pais nesse processo (Freud, 1905/2016; 1914/2010). Posto isso, os autores desse trabalho decidiram por segmentar as temáticas por acreditarem que isso possibilita uma análise ampla e detalhada, contemplando as complexidades e nuances presentes na parentalidade contemporânea e seu impacto no desenvolvimento humano.


A pós modernidade

Podemos iniciar afirmando que definir conceitualmente a pós-modernidade e o momento que ela se iniciou, pode gerar ambiguidades. Isso ocorre porque diferentes perspectivas apontam que a pós-modernidade seria, na verdade, uma extensão da modernidade e não uma ruptura como outros afirmam e dessa forma, não haveria um momento de início demarcado.

Através da terminologia entendemos que o prefixo “pós” denota a ideia de posterior/depois e a palavra “modernidade”, explicada pela história, retrata uma visão iluminista, em que se ocorreu a Revolução Industrial e tem como marco o caráter emancipatório, na qual os sujeitos operariam em sua realidade através da razão (Shinn, 2008). Neste trabalho, utilizamos os termos pós-modernidade, modernidade fluída e contemporaneidade como sendo o estado de ser e agir social, do século atual, resultado de mudanças sociais, culturais e políticas deste contexto histórico (Shinn, 2008).

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Para introduzir e caracterizar este contexto, o filósofo e sociólogo francês Jean

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Baudrillard no seu trabalho chamado “Simulacros e Simulação” (1991), critica a obsessão da sociedade pós-moderna com o consumo e o excesso de informações, argumentando que isso leva à perda de significado e a alienação do mundo real. Ademais, no mesmo livro, Baudrillard (1991) discute como as representações, símbolos e imagens têm se tornado mais reais do que a própria realidade, criando uma hiper realidade onde a distinção entre o que é genuíno e o que é simulado se desvanece. Além disso, ele analisa como as mídias, a cultura deconsumo e a tecnologia contribuem para a criação desse mundo de simulacros, onde as imagens substituem as coisas que elas representam (Baudrillard, 1991). Por fim, o autor ainda provoca reflexões sobre como a sociedade contemporânea interage com representações e como isso molda nossa percepção do mundo e da própria existência, quando questionado a autenticidade e a verdade na era da simulação (Baudrillard, 1991).

Outro autor que abordou as modificações das relações na pós-modernidade foi Anthony Giddens (1991) que em sua obra “As Consequências da Modernidade”, explora mudanças resultantes da transição da modernidade para a pós-modernidade e como afetam as relações interpessoais e a identidade individual. Uma de suas maiores contribuições para a temática trata-se do conceito de “desencaixe” utilizado para descrever a ruptura das tradições e a necessidade individual em construírem suas próprias identidades em um mundo de constante transformação como descreve no trecho a seguir:

A separação entre tempo e espaço e sua formação em dimensões padronizadas, "vazias", penetram as conexões entre a atividade social e seus "encaixes" nas particularidades dos contextos de presença. As instituições desencaixadas dilatam amplamente o escopo do distanciamento tempo-espaço e, para ter este efeito, dependem da coordenação através do tempo e do espaço. Este fenômeno serve para abrir múltiplas possibilidades de mudança liberando as restrições dos hábitos e das práticas locais (Giddens, 1991, p.23-24).


Em contrapartida, temos Jean-François Lyotard que em sua obra “A Condição Pós- Moderna” (2009) apresenta três principais tópicos que, em sua visão, emergem nessa era. Em primeiro lugar, é possível observar o declínio das abordagens totalizantes, como asfilosofias da história, que já não conseguem mais captar a complexidade da sociedade (Lyotard, 2009). Contudo, sua observação não é posta de forma negativa pois defende que a coexistência de diversas perspectivas enriquece a sociedade, ocasionando em uma valorizaçãoda diversidade cultural e do pluralismo, em vez de buscar uma única verdade dominante, refletindo assim a essência da condição pós-moderna (Lyotard, 2009).

Partindo daí, temos que na modernidade, havia uma aspiração ao desejo de

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mobilidadee velocidade e que, na realidade contemporânea, se tornou uma necessidade crucial para a existência e inserção social e, o ato de consumir, exposto pelo capitalismo, seria sua melhor forma de aceitação e diminuição do mal-estar associado ao vazio (Tfouni e Silva, 2008).

Segundo o autor Bauman (2004, 2001, 1998) o sujeito da pós-modernidade se desenvolve cercado de sentimentos como ansiedade, insegurança e angústia, causados pela percepção inconsciente de serem supérfluos da mesma forma que os objetos de desejo impostos pelo capitalismo, o que reflete em seus relacionamentos, tornando-os fluídos, incertos e voláteis:


Na medida em que os relacionamentos são vistos como investimentos, como garantias de segurança e solução de seus problemas, eles parecem um jogo de cara ou coroa. A solidão produz insegurança - mas o relacionamento não parece fazer outra coisa. Numa relação, você pode sentir-se tão inseguro quanto sem ela, ou até pior. Só mudam os nomes que você dá à ansiedade (Bauman, 2004, p.31).


Já autores como Tfouni e Silva (2008) e Scholz et al. (2015) abordam o fator “tempo” que parece estar cada vez mais escasso na atualidade. Acompanhando o movimento acelerado proposto pela modernidade fluida, os diversos afazeres assumidos no cotidiano, dificultam que pessoas interajam, se atentem ou se doam ao outro. Nessa perspectiva, podemos pensar que pela fluidez dos relacionamentos, a socialização e a transferência de valores morais e culturais, entre os sujeitos, diminui drasticamente, tornando as tecnologias e os meios de comunicação em massa, responsáveis por realizar essa tarefa. (Scholz et al, 2015).

Somando-se a ideia, o autor ressalta ainda o poder de reflexividade presente na atualidade, afirmando que as pessoas são conscientes das escolhas e consequências de suas ações, influenciando as relações estabelecidas. Dessa forma, indo ao encontro da ideia de fluidez dos relacionamentos exposto por Bauman (2004, 2001, 1998), Giddens (1991) justificaque essa prática, em que sujeitos avaliam constantemente suas ações e decisões, tornam as relações sociais mais conscientes e autoconscientes.


Parentalidade

Como apresentado anteriormente, o termo “parental” surge com o intuito de atribuir uma posição homóloga aos cuidadores, para além do gênero e vínculo sanguíneo (Corso e

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Corso, 2016). Apesar dessa ideia, Teperman (2014) e Teperman, Garrafa e Iaconelli (2023) expressam críticas em relação ao conceito, pois acreditam que o termo não diferencia devidamente as funções exercidas pela mãe e pelo pai, o que poderia resultar em uma falta de clareza dentro do contexto familiar.

A partir disso, podemos pensar que a parentalidade abrange papéis simbólicos que transcendem estereótipos, se associando mais com a disposição e habilidades individuais e não necessariamente ligados ao gênero (Teperman, Garrafa e Iaconelli, 2023). Acrescentando ao raciocínio, o termo “gênero” refere-se a um conceito social e cultural que vai além da biologia sexual e se relaciona com as expectativas, papéis, comportamentos e características que uma sociedade considera apropriado para os indivíduos com base em seu sexo percebido (Ceccarelli, 2009). Ou seja, trata-se apenas de uma parte da identidade de uma pessoa. Posto isso, torna-se importante citar que a evolução das estruturas familiares propiciou uma diversidade de relações de gênero e papéis na distribuição das responsabilidades parentais, sendo essencial apresentá-las.

No decorrer da história, vemos a influência do estado, a partir dos séculos XVI eXVII, para controlar a população através dos modelos familiares (Ceccarelli et al., 2019), na qual se estabelecia normas heteronormativas e uma divisão rígida de tarefas. No entanto, atualmente, vemos uma variedade de configurações familiares e afetos sexuais emergindo.

A homoparentalidade, por exemplo, tem conquistado um lugar social e um respaldo legal, à medida que políticas de saúde e psicologia não mais consideram a homossexualidade como sendo um transtorno e as decisões judiciais passam a reconhecer as uniões homoafetivas (Blankenheim, Oliveira-Menegotto e Silva, 2018). Apesar disso, ainda assim, persistem preconceitos, principalmente em ambientes conservadores que questionam a capacidade parental de casais do mesmo sexo. Todavia, Blankenheim, Oliveira-Menegotto e Silva (2018) apontam evidências científicas que refutam esses mitos, mostrando que não há diferenças substanciais na capacidade parental entre casais heterossexuais e homossexuais

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Outro exemplo que pode ser citado é a monoparentalidade, em específico, as mães solo, na qual os autores Barbosa, Oliveira Pires e Di Gregório (2023) discutem e enfatizam a sobrecarga de trabalho e a falta de apoio emocional e financeiro como sendo alguns dos desafios enfrentados por essas mulheres e que pode tornar a parentalidade uma jornadadesafiadora e causadora de preconceito social. Essas dinâmicas ilustram a complexidade das relações de

gênero na parentalidade sendo um aspecto que será explorado posteriormenteneste trabalho

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ao analisarmos as experiências do gênero feminino e masculino em seusrespectivos papéis parentais, com o intuito único de agregar na reflexão e sem a intenção de excluir a importância das demais configurações familiares.

Neste momento então, cabe a diferenciação dos termos “papéis” e “funções” para entender a importância, ou não, da presença dos genitores no crescimento de uma criança. Segundo Iaconelli (2019) podemos pensar nos papéis como sendo variantes à medida que a sociedade progride:

No que tange aos papéis, teremos uma miríade de costumes nos lembrando que, embora a incumbência dos cuidados dos filhos venha sendo, ao longo da história, hegemonicamente das pessoas que gestaram, as variações são enormes. Os papéis depai/mãe de hoje responden a período histórico no qual estamos inseridos e reproduzem o modelo burguês, cis, patriarcal e heterossexual (Teperman, Garrafa e Iaconelli, p.14).

Em contrapartida, a função é aquilo considerado vital para o desenvolvimento das crianças como educar para que essa criança seja introduzida na sociedade, transmitir questões geracionais, dar um nome e um sobrenome, apresentar a lei, responsabilizar-se, amar, além dademonstração de afeto (Iaconelli, 2019).

Assim, entendemos que a presença do genitor não influencia no crescimento dosujeito, visto que apenas seu nascimento não determina a constituição dos papéis parentais e o reordenamento simbólico não é ligado diretamente a questões biológicas (Teperman, Garrafa e Iaconelli, 2023).

Para o autor Marques (2015) a parentalidade pode ser definida como o exercício dos cuidadores em fornecer as condições físicas, psicológicas e sociais para a sobrevivência e o desenvolvimento saudável de uma criança. Isso expressa a importância da parentalidade na formação do sujeito como membro funcional e integrado da sociedade, sugerindo não ser apenas um ato de cuidado imediato, mas uma preparação para a vida futura para que ela possa interagir e contribuir de maneira positiva para a comunidade em que estiver inserida (Marques, 2015).

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Compactuando com a ideia, Teperman, Garrafa e Iaconelli (2023) pontua que a parentalidade “[...] é um lugar instituído no campo social - a partir do nascimento de uma criança o campo social institui aqueles que terão a função de intermediar a constituição subjetiva da criança/filho.” (Teperman, Garrafa e Iaconelli, 2023, p.34), se tratando nãoapenas de um vínculo individual e familiar, mas uma ação socialmente atribuída, indo além dos laços biológicos.

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A partir dos fatos supracitados, podemos pensar que, ao abordar a parentalidade, apenas o ato de pensar na concepção de um filho gera movimentação de aspectos narcisistas dos pais. Em seu texto de 1914, intitulado “Introdução ao Narcisismo”, Sigmund Freud (2010) afirma que o amor que os pais sentem pelos filhos é uma tentativa de recuperar e reproduzir seu próprio narcisismo infantil extraviado no decorrer dos tempos.

Assim sendo, o narcisismo infantil citado por Freud (2010) e a transmissão consciente e inconsciente pontuado por Zorning (2010) é apresentado pelas autoras Magalhães e Féres- Carneiro (2004) como “transmissão psíquica”, argumentando se tratar do investimento narcísico realizado entre os pais ou cuidadores para com as crianças. Segundo elas, essa transmissão que ocorre entre os membros familiares é atemporal e dinâmica, e esses se desenvolvem a partir de transmissões e laços afetivos. Dessa forma, aspectos individuais dos pais como as fantasias, os medos, proibições e desejos são passados a criança influenciando sua experiência psíquica (Zorning, 2010).

Pensar nessa transmissão psíquica é pensar na criação e na formação do sujeito, no vir a ser sujeito, o modo como se caracteriza como tal e como se forma a subjetividade dentro e a partir da família, através das relações familiares. Recebe conteúdo dos outros membros e dá outros a eles, através de uma importante e necessária troca psíquica (Scholz et al.,2015, p.16).

O conceito apresentado ressalta a importância de adotar um processo constitutivo que permita a interação com os cuidados oferecidos tanto pelo pai quanto pela mãe, ou por aqueles que realizam este papel. Tal abordagem não apenas oferece a oportunidade de enriquecer a diversidade na experiência criativa da vida, mas também de promover uma formação do eu mais flexível, contribuindo assim para uma perspectiva menos inflexível em relação às dinâmicas entre sujeitos de gêneros distintos (Campana, Dos Santos e Gomes, 2019). Ainda nesse sentido, podemos citar aspectos sócio históricos individuais que vão ecoar na prática parental como o tempo de interação com os filhos, a personalidade, possíveis psicopatologias, a rede de apoio, profissão dos pais (Pereira Neto & Grzybowski, 2020) que influenciará a disciplina, os cuidados, as oportunidades e encorajamento para o desenvolvimento.

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Posto isso, pontuamos que o termo “parentalidade” escolhido para constituir o título do presente trabalho, não possui como intuito igualar os papéis parentais mas, sim, possibilitar abordagens mais flexíveis em relação às responsabilidades, levando em consideração osvínculos afetivos e de pertencimento (Campana, Dos Santos e Gomes, 2019).

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Além disso, o termo nos possibilita pensar que “Cuidar de filhos passou a ser responsabilidade de pais e mães, assim como prover o sustento da família” (Iaconelli, 2019, p.15), eliminando a separação de gênero entre os papéis dentro do contexto familiar.


Maternalismo e o “Nome-do-Pai”

Ao falar sobre parentalidade, torna-se irrefutável a necessidade de expor sobre paradigmas sociais voltados à condição das mulheres no que compete aos cuidados de um sujeito. Em uma reflexão, os autores Palmeira e Scorsolini-Comin (2018) e Ferreira et al. (2018) abordam que, o amor de mãe, tal qual o instinto materno, são produtos da evolução social, passíveis de mudanças, de acordo com o contexto sociocultural em que se analisa.

Assim, Corso e Corso (2016) argumentam que a ênfase na importância da maternidade se intensificou em um contexto histórico de crescente participação das mulheres em debates sociais. Essa ênfase pode ser interpretada como uma tentativa de conter o avanço das mulheres no espaço público, silenciando suas vozes e reforçando a ideia de que seu lugar ideal seria no lar.

Logo, é possível visualizar a sociedade idealizando a maternidade, levando as mulheres a aceitarem culturalmente esse papel e de certa forma, retirando do outro cuidador a participação neste processo:

Usa-se o termo "maternalismo" para nomear o discurso no qual o cuidado da mulher com os filhos é naturalizado, sendo o ideal da maternidade o suporte para o culto à família patriarcal como estrutura última da organização social possível. A política dos cuidados é imposta à mulher, negando que sua participação no espaço público torna-se comprometida diante da divisão desigual de tarefas no âmbito privado. (Teperman, Garrafa e Iaconelli, 2023, p.78).

Em contrapartida, no contexto psicanalítico apresentado por Jacques Lacan em seu seminário de número 11 “Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise” uma figura terceira na dinâmica familiar é de suma importância ao desenvolvimento saudável da identidade da criança. (Lacan, 1964/1985). Essa figura referida como o “Nome-do-Pai” (conceito simbólico destinado àquele que rompe a ligação simbiótica que, não necessariamente, deve ser um homem/pai) desempenha o papel crucial de introduzir elementos de ordem e estrutura na relação entre mãe e filho.

Dentro desse contexto, a teoria de Lacan (1964/1985) ressalta a importância de uma dinâmica saudável e equilibrada entre mãe e filho, facilitada pela presença do “Nome-do-

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Pai” ou figura equivalente, que ajuda a criança a se desenvolver como um indivíduo distinto da mãe. Isso implica que, na ausência do pai biológico, outras pessoas podem desempenhar esse papel simbólico significativo, proporcionando um ambiente propício ao desenvolvimento saudável. Portanto, a mensagem central reside na valorização de um elemento que atue como mediador desse conceito simbólico na construção da identidade da criança, sem qualquer julgamento em relação à estrutura ou configuração familiar em que a criança está inserida.

Ainda na perspectiva psicanalítica (Teperman, Garrafa e Iaconelli, 2023) considera- se essencial que haja a presença de um "elemento adicional" para promover a distinção psicológica entre mãe e filho, uma das responsabilidades atribuídas à denominada "função parental". Ao se tornar o alvo do desejo do pai/mãe, esse "indivíduo adicional" é inserido na fusão inicial entre mãe e filho, revelando à criança a existência de um "outro" desejado e consequentemente, dando início à noção de alteridade (Teperman, Garrafa e Iaconelli, 2023).


A parentalidade no desenvolvimento


Incorporando nossa discussão, Moura et al. (2022) explica, através de uma metáfora, que os primeiros anos de vida são como alicerce de uma casa e investir nessa fase significa investir na sociedade, pois ao modificar o início da história, modifica-se toda a trajetória. Ademais, Iaconelli (2019) nos traz uma reflexão quanto a forma que educamos hoje, afirmando que não sabemos para qual realidade estamos preparando as crianças e a educação é baseada no mundo atual.

Com base nisso, acreditamos ser de suma importância esclarecer o conceito de “desenvolvimento” tal como é mencionado no título e ao longo deste estudo, antes de realmente introduzir o papel da parentalidade neste momento. Para essa finalidade, recorreremos à abordagem psicanalítica como base.

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Em seu livro “Psicologia e Desenvolvimento Infantil”, Jerusalinsky (2007) delineia deforma precisa a distinção que estamos buscando estabelecer neste trabalho, aludindo o termo “desenvolvimento” a um processo maturativo, ancorado em perspectivas biomédicas e frequentemente avaliado por meio de comparações. No entanto, nosso foco reside na constituição do sujeito, para além desse processo maturativo limitante que não condiciona e nem determina um sujeito (Jerusalinsky, 2007). Logo, para fins deste trabalho, o termo

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“desenvolvimento” falará sobre a constituição subjetiva e psíquica do sujeito.

Podemos agora então, iniciar o assunto de desenvolvimento citando a teoria psicossexual de Freud de 1901-1905, apresentada em seu trabalho “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade” (1905/2016), por ser considerada fundamental para entendermos a formação da psique humana. Neste, o autor sugere que o desenvolvimento emocional e sexual são etapas pelas quais as pessoas passam desde o nascimento até a idade adulta, cada uma associada a uma área específica do corpo e a desafios emocionais (Freud, 1905/2016).

Somando-se a isso, anos mais tarde, em sua obra “Introdução ao Narcisismo” de 1914, Freud (1914/2010) expandiu sua compreensão da psicologia humana ao introduzir a teoria do narcisismo para explorar a relação entre o sujeito e seu próprio eu, ressaltando a importância da autoestima e do amor próprio. Dessa forma, Freud (1914/2010) argumentou que o narcisismo não é apenas uma característica presente em cada sujeito, mas também desempenha um papel crucial na formação da identidade e nas interações sociais.

Assim, é possível conectar essas duas teorias (Freud, 1905/2016; 1914/2010). No estágio oral, por exemplo, o bebê experimenta o mundo através da boca e busca satisfação oral, envolvendo um certo grau de narcisismo, já que está focado principalmente em suas próprias sensações e necessidades. À medida que a criança avança para o estágio anal, o controle dos processos corporais - como a eliminação - se torna central, desenvolvendo a noção de autonomia e controle sobre o próprio corpo. Ademais, no estágio fálico a criança começa a desenvolver um senso de identidade de gênero e desperta sentimentos pelo genitor do sexo oposto, também conhecido como Complexo de Édipo, que envolve a transferência de parte do narcisismo inicial para essa figura parental.

Por fim, o período de latência e o estágio genital também estão entrelaçados com o narcisismo, afinal, durante a latência, o foco é na socialização e no desenvolvimento de habilidades e, no estágio genital, as energias emocionais voltam-se para fora, para relacionamentos maduros e íntimos (Freud, 1905/2016; 1914/2010). Assim sendo, torna-se evidente a contribuição das primeiras fases do desenvolvimento psicossexual na construção daautoimagem e no senso de identidade, apresentados como elementos centrais na teoria do narcisismo de Freud (1914/2010).

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A partir disso, a relação entre a criança e os cuidadores, nos estágios iniciais, desempenha um papel fundamental, pois, os cuidados, a atenção e o afeto fornecidos por eles ajudam a moldar a percepção que a criança tem de si mesma e do mundo ao seu redor (Freud, 1905/2016; 1914/2010).

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Para confirmar a ideia, Souza et al. (2021) afirma que as práticas parentais auxilia o desenvolvimento das funções executivas das crianças tal como seu amadurecimento cerebral por meio de estímulos diretos ou pela influência exercida sobre as forças que moldam o ambiente em que estão inseridas. Os autores Ferreira et al. (2018) destacam que o estabelecimento de apego seguro - vínculo emocional saudável que proporciona confiança e apoio - com pelo menos um dos pais, ocasiona benefícios ao desenvolvimento.

Retornando à teoria freudiana (1905/2016), durante o estágio oral e anal, a maneira como os cuidadores atendem às necessidades da criança pode influenciar a forma como ela lida com questões de confiança e autonomia ao longo da vida. Quando se trata do estágio fálico, estes cuidadores se apresentam como figuras de autoridade e modelos de identificação e a maneira como eles lidam com as curiosidades sexuais e as emoções da criança, podem impactar na formação da identidade de gênero e na compreensão das relações interpessoais. Por fim, à medida que o sujeito avança para os estágios de latência e genital, os cuidadores auxiliam no desenvolvimento de habilidades sociais e na compreensão de normas e valores culturais importantes para a construção de relações saudáveis e maduras.

Para Jerusalinsky (2007) o que diferencia o bebê humano de outras espécies é a necessidade de outro ser humano para satisfazer seus estímulos externos e internos, visto que não possui recursos biológicos para fazê-lo sozinho e por isso o objetivo humano é constituído através do Outro.

Continuando nessa perspectiva, Corso e Corso (2016) afirmam que no processo de crescimento infantil, os vínculos afetivos desempenham um papel fundamental, afinal, o afeto recebido do Outro instiga nossos comportamentos para nos assemelhamos a eles, integrando suas qualidades em nossa própria personalidade. Ademais, Checchinato (2007) pontua que “O outro (pai, mãe ou que tal) e o Outro (a linguagem, o nome, o discurso que tange à criança) condicionam-lhe a subjetividade, já mesmo antes de sua concepção.” (Checchinato, 2007, p.116) visto que movimenta desejos, pensamentos e expectativas desse Outro.

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É possível constatar que não há uma hierarquia quanto a importância de cada relação parental, mas cada uma contribui de maneira específica para o desenvolvimento infantil. (Ferreira et al., 2018). Dessa forma, o processo de desenvolvimento então, é influenciado peloanseio do Outro que exerce sua influência na criança por meio da comunicação verbal, como apontado por Jerusalinsky (2007). Assim, a criança que não tem a capacidade de interagir-se com si próprio, interage com seus cuidadores, realizando com estes significativas

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trocas emocionais. (Zorning, 2010).


A parentalidade na contemporaneidade

Diante dos fatos supracitados acerca da sociedade pós-moderna, surgiram-se questionamentos no que tange o relacionamento entre pais e filhos refletindo, por exemplo, sea descrição acerca das relações voláteis, também se estenderia à parentalidade, se os pais exercerem seus papéis de maneira coerente ou, ainda, se a influência da sociedade capitalista prejudicaria o desenvolvimento da criança atual.

Dessa forma, pensando nas modificações do estado de ser e agir do indivíduo contemporâneo, discutidos até o momento, a seguir será exposto o posicionamento da literatura atual sobre a parentalidade, entendendo essa relação como sendo fundamental para odesenvolvimento da criança (Corso e Corso, 2016). Por fim, é importante termos em mente que ter um filho nunca foi fácil em nenhum contexto histórico em que se analise (Iaconelli , 2019).

Sobre a parentalidade contemporânea, os autores Campana, Dos Santos e Gomes (2019) constatam que, na sociedade atual, essa prática é frequentemente encarada como um empreendimento que engloba não somente casais, mas também sujeitos que optam por vivenciar a parentalidade de maneira independente. Neste contexto, Iaconelli (2019) pontua que os atos sexuais têm, cada vez menos, relação com a concepção de um filho, mesmo sabendo que mesmo para aqueles que optam por não ter filhos, permanece o fato de serem, de alguma maneira, filhos de alguém.

Nessa perspectiva, o contexto social atual estampa as práticas parentais como sendo um projeto possível de ser meticulosamente planejado, controlado e negociado, tanto entre os parceiros envolvidos quanto em relação às diversas variáveis de curto e longo prazo que possam surgir (Campana, Dos Santos e Gomes, 2019).

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Logo, essa abordagem expõe o reflexo da ênfase contemporânea voltado para a autonomia e a negociação passível de ser adiada sobre a decisão de se tornarem pais, considerando fatores como estabilidade emocional, condição financeira e apoio familiar, visando aprimorar a qualidade da experiência parental (Souza et al., 2021). Segundo Iaconelli (2019) a parentalidade contemporânea, exposta como uma escolha pessoal, nos desafia a enfrentar nossos próprios desejos e limitações, afinal, embora seja frequentemente uma


experiência enriquecedora, requer ajustes nas expectativas e, muitos casais com dificuldade em definir as responsabilidades entram em conflitos, ressentimentos e até separações.

Dando continuidade nessa reflexão, o reconhecimento das mudanças significativas na interação com sistemas familiares, influenciadas por fatores como o aumento de divórcios, migração e a formação de famílias reconstituídas também se torna primordial (Corso e Corso, 2016). É interessante observar, especificamente, a emergência de uma nova abordagem para aaquisição de conhecimentos sobre parentalidade, a qual envolve a exploração de fontes externas ao círculo familiar, como livros e a internet (Santos et al., 2018). Assim, acreditamos poder associar, diretamente, essa prática à globalização, por proporcionar e viabilizar acesso adiferentes perspectivas e modelos de comportamento parental, permitindo assim a adoção de paradigmas alternativos para que se auto orientem.

A procura de mães e pais por espaços para falar sobre parentalidade tem crescido emdiferentes contextos: assistimos ao surgimento das "rodas de puerpério", ' à proliferação do tema nas redes sociais e em grupos de WhatsApp, além do aumento expressivo da presença do tema na mídia (Teperman, Garrafa e Iaconelli, 2023, p.55).


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Neste contexto, os autores Santos et al. (2018) abordam diversas conclusões relacionadas à busca de informações pelos pais, considerando fatores como idade, gênero, status socioeconômico e escolaridade. O que se constatou neste estudo foi que os pais com maior status socioeconômico têm maior inclinação a buscar informações educativas, enquanto aqueles de status mais baixo podem enfrentar dificuldades em discernir informações (Santos et al., 2018). Além disso, pais jovens com filhos pequenos tendem a usar mais a Internet para pesquisas educacionais, exibindo habilidades de navegação mais desenvolvidas. Todavia, de acordo com Iaconelli (2019), a profusão de abordagens para “aprender” sobre parentalidadena atualidade tem provocado sentimentos de culpa entre alguns pais, isso porque, mesmo tendo acesso a um vasto conjunto de informações, eles se veem incapazes de cumprir suas obrigações parentais de maneira que consideram satisfatória. Em contrapartida, associando a ideia da sociedade capitalista na qual o ato de consumir aparece como solução para um não sofrimento e, associando-a com a prática parental, Scholz et al. (2015) manifestam que os meios de comunicações corroboram com a falsa ideia de que as relações não precisam de manutenção e, tão pouco, limites. Segundo eles,isso se dá pelo fato das crianças serem apresentadas como seres de igualdade aos adultos,


sendo suscetíveis a reivindicar suas vontades e, assim, as tornam consumidores em potencial. A psicanalista Iaconelli (2019) pontua que há uma busca incessante por posses e bens materiais, enquanto, paradoxalmente, nos desencoraja a valorizar os desejos genuínos e, este constante estímulo ao consumo leva os pais a se esforçarem excessivamente para proporcionar bens materiais aos seus filhos, muitas vezes à custa de uma menor presença ao lado deles. Contudo, esse comportamento diminui e dificulta as práticas parentais para com ascrianças, pois, esses se posicionam como adultos e supostamente sem necessidade de tratá-

las de forma diferenciada e com autoridade (Scholz et al., 2015).

Ainda neste sentido, é possível retornar ao fator tempo, já abordado anteriormente, e apresentá-lo de maneira mais explícita no âmbito da parentalidade. Em seu livro “A fábrica decretinos digitais” o neurocientista Michel Desmurget, aborda o uso de tecnologias tanto por crianças, quanto por adultos, associando este comportamento ao fator tempo (ou a falta dele) encontrada nos discursos da contemporaneidade:

Ninguém gosta de sentir que é, aos olhos dos seus próximos, menos importante e digno de atenção que um telefone celular. As tensões então desencadeadas favorecem a emergência de insatisfações relacionais, comportamentos agressivos e mesmo estados depressivos de um certo mal-estar tem existencial (Desmurget, 2021,p. 145).


A partir disso e entendendo a função primordial das trocas verbais no desenvolvimento da linguagem, o autor ainda expõe a ideia de fragmentação do tempo gasto nas práticas parentais, pelos pais do atual contexto histórico, com o uso da tecnologia,resultando na ausência de interações significativas (Desmurget, 2021). Reforçando a ideia, Iaconelli (2019) apresenta que a interação com outras crianças e até com adultos, passou a ser relacionado as máquinas. Dessa forma, isso pode resultar em uma redução na qualidade do tempo passado juntos, prejudicando o desenvolvimento de vínculos emocionais e comunicação aberta. Além disso, o exemplo dos pais como modelos de equilíbrio no uso da tecnologia também ficaria comprometido, influenciando negativamente os hábitos digitais das crianças (Desmurget, 2021).

Todavia, para além dos acessos tecnológicos, até mesmo as novas configurações de família influenciam no tempo que os pais dispõe aos filhos. Quando pensamos no divórcio, por exemplo, a restrição do tempo da criança com um dos pais poderia ameaçar essa relação, tornando fundamental a promoção de convivência com ambos os pais (Ferreira et al., 2018).

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Ademais, os autores citados anteriormente expuseram que a falta de interações regulares


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foi associada à deterioração gradual das relações, tornando os pais estranhos, contudo, a quantidade e a qualidade do tempo que os filhos passam com ambos os pais estão ligadas a um melhor desenvolvimento global e a vínculos mais fortes.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


Diante da análise realizada sobre a parentalidade e suas interações com o contexto contemporâneo, torna-se evidente que as mudanças sociais, tecnológicas e culturais têm impactado significativamente os direcionamentos e funções desempenhados pelos pais no desenvolvimento da criança. Logo, podemos afirmar que há modificações nos papéis parentais, além de compreender que estes estão se redefinindo e adaptando para atender às demandas da sociedade pós-moderna.

Outro aspecto relevante trata-se da parentalidade, antes associada a papéis estritamente definidos pelo gênero e à ênfase na autoridade paterna que, atualmente, tem evoluído para uma abordagem mais flexível e participativa, na qual o compartilhamento de responsabilidades entre pais e cuidadores é enfatizado. Dessa forma, a influência da sociedadepós-moderna se manifesta, até mesmo, pela busca por uma parentalidade mais consciente, autônoma e informada, evidenciada pela presença de pesquisas que informem sobre criação e desenvolvimento infantil.

Somando-se a isso, podemos pensar que a fluidez das relações interpessoais da contemporaneidade também se reflete nas relações parentais. Uma vertente que confirma isso são transformações familiares, como divórcios e famílias reconstituídas, que também têm impactado a maneira como os pais se relacionam com seus filhos. Apesar disso, a conscientização da importância da parentalidade e sua influência no desenvolvimento da criança levam a busca por um equilíbrio entre o tempo investido em outros afazeres e nas atividades familiares.

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Entretanto, a presença do uso excessivo de dispositivos digitais tanto dos pais, quanto das crianças e adolescentes, podem interferir nas interações familiares e na qualidade do tempo passado juntos, afinal, a fragmentação do tempo causada pelo uso constante da tecnologia pode prejudicar a formação de vínculos emocionais e a comunicação aberta entre pais e filhos, podendo ser considerado um desafio causado pela natureza acelerada da vida pós-moderna.


Nesse contexto, a parentalidade se apresenta como uma prática complexa e multifacetada, moldada por fatores individuais, sociais e culturais. A compreensão das mudanças na dinâmica familiar e na sociedade em geral nos permite reconhecer a necessidade de abordagens mais flexíveis e adaptativas para o tema e a busca por equilíbrio entre as responsabilidades parentais e as demandas contemporâneas se apresenta como sendo fundamental para promover um ambiente saudável e enriquecedor para o desenvolvimento da criança.

Em síntese, o estudo sobre as modificações nos direcionamentos e funções da parentalidade na contemporaneidade revela um cenário complexo e em constante transformação. A hipótese inicial da presença de modificações neste direcionamento se mostrou verdadeira, porém, não vinculada apenas às relações entre pais e filhos como era imaginado, mas também, pelas novas configurações familiares. Além disso, é redundante reconhecer que, as interações com o Outro, pais ou cuidadores, independente do contexto sócio-histórico que se avalie, desempenham um papel crucial no processo de criação e formação do sujeito e essa compreensão tem o potencial de contribuir para o aprimoramento das práticas parentais e para a construção de relações familiares mais harmoniosas.

Concluindo, à luz das complexidades inerentes ao contexto em constante evolução da contemporaneidade, reconhecemos as limitações desta pesquisa por se tratar de estudo inserido no tempo histórico estudado. No entanto, esse reconhecimento também destaca a importância de direcionar futuras investigações para áreas específicas que podem enriquecer nosso entendimento e avaliar a real interferência da contemporaneidade no desenvolvimento humano, como o impacto das novas tecnologias na parentalidade, a dinâmica das diversas estruturas familiares, a eficácia de intervenções de apoio à parentalidade e o efeito dasmudanças sociais no desenvolvimento socioemocional das crianças. Para tal, caberia a colaboração interdisciplinar em diferentes estilos de estudos além da análise de políticas públicas para que haja uma avaliação abrangente desse contexto em constante mutação.


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Declaração de Interesse

Os autores declaram não haver nenhum conflito de interesse


Financiamento

Financiamento próprio

Colaboração entre autores

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O presente artigo foi escrito por Silva, M. V. sob orientação da professora Teixeira, F. C., projetado e concluído no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), como pré-requisito para obtenção do grau de bacharela em Psicologia do Centro Universitário de Viçosa (UNIVIÇOSA). Ambos os autores cuidaram da parte dissertativa do artigo